Mianmar e Austrália expõem o impacto da internet na democracia

Cada vez mais presentes na nossa vida, as redes sociais se tornaram ferramentas para que as pessoas encontrem amigos, se informem e se sintam acolhidas. Nas plataformas digitais é possível se conectar com grupos que pensam como você, compartilham dos mesmos ideais e lutem pelos mesmos princípios. Por causa disso, esse ambiente virutal também se tornou protagonista em lutas políticas e embaraços legais.

Em fevereiro deste ano, Mianmar sofreu um golpe de Estado e a líder do país, Aung San Suu Kyi, foi presa. Uma junta militar assumiu o poder e pretende ficar no comando do país asiático por um ano.  Segundo a professora de Relações Internacionais da USP, Marislei Nishijima, o recente golpe entra no padrão de novas ditaduras do século 21, bastante diferentes das vistas anteriormente.

“Essas ditaduras surgem a partir de eleições legítimas em sistemas democráticos, onde um presidente se elege e, uma vez eleito, começa a usar a máquina do governo para não sair do poder”, explica.

Em Mianmar, a junta que assumiu o poder perdeu as eleições em dezembro do ano passado e rejeitou o resultado do pleito com a alegação de fraude.

Em 2011, a ONU oficializou a acesso à rede como um direito humano básico à medida que o indivíduo utiliza a internet para exercer sua liberdade de opinião e de expressão e para promover o progresso da sociedade como um todo.

“O acesso à internet se torna interessante, até mesmo necessário, para que você consiga ter contato com uma pluralidade de crenças e ideias”, diz Carlos Piovezani, professor de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e autor do livro “A Linguagem Fascista”.

Piovezani explica que a internet também permitiu que “grupos minoritários e marginalizados ecoassem suas vozes” e ressalta que essa “resistência já acontece há muito tempo na história”.

VEJA TAMBÉM

Nos últimos dias, grupos pró-golpe militar entraram em confronto com opositores e a repressão da polícia já deixou 8 mortos, sendo que apenas 3 foram confirmadas pelos militares. Sem a possibilidade de ouvir o lado dos cidadãos, mesmo que de forma remota pela internet, é difícil de compreender a dimensão dos problemas. “Com as redes, você consegue uma repercussão muito maior das suas queixas”, diz o professor da UFSCAR.

O bloqueio na Austrália

undefined

Na Austrália, lei obriga gigantes da tecnologia a pagarem mídia por seus conteúdos

Na Austrália, lei obriga gigantes da tecnologia a pagarem mídia por seus conteúdos

DADO RUVIC/REUTERS – 18.2.2021

O governo da Australia criou uma lei para obrigar as gigantes de tecnologia, como o Facebook e o Google, a pagar para as empresas de mídia pelo uso de notícias nas redes sociais. Na última semana, a empresa de Mark Zuckerberg rejeitou a decisão das autoridades e decidiu bloquear as páginas de notícia do país temporariamente.

Segundo a professora Nishijima, a decisão da Austrália pode se tornar uma tendência entre os países ricos, principalmente na Europa, já que eles são mais preocupados com a questão do controle de dados. Isso porque a grande maioria das empresas de tecnologia começaram nos EUA e segue a legislação norte-americana, o que faz o controle na Europa “mais frágil”.

“O governo australiano viu que o Facebook ganha muito dinheiro e eles querem uma parte disso. Para eles, se os cidadãos repassam notícias que vem de jornais locais, o Facebook precisa pagar por isso”, explica a professora da USP.

“Caso essa tendência continue pelo mundo, as redes sociais podem ter dois futuros: ou elas serão pagas, ou deixarão de funcionar nestes países”, pondera o o advogado e presidente da comissão de Direito Digital da OAB, Spencer Toth Sydow.

A rede social e o governo já entraram em um acordo e o Facebook e o Google decidiram que vão investir R$ 5 bilhões cada nos próximos 5 anos em conteúdo de notícias.

Fonte: noticias.r7.com