Médico que examinou Gugu explica: ‘Foi uma situação extremamente grave’

O refúgio que a família de Gugu escolheu fica numa região da Flórida muito diferente das cidades brasileiras. E não é só por causa da infraestrutura planejada, de espaços bem cuidados. Não é por causa da Disney, que atrai milhões de brasileiros mas por causa do que se vê nas ruas.

Ou do que não se vê: pessoas.

As cidades no entorno de Orlando são formadas por centenas de condomínios fechados. De alguns anos pra cá, muitos brasileiros famosos, incluindo Gugu, começaram a buscar essa tranquilidade em uma cidade específica: Celebration.

O apresentador fazia coisas ali que só o anonimato permitia. Andando pelas ruas de um condomínio, a impressão é de estar dentro do cenário de um filme americano. E não é por acaso. Celebration é uma cidade que foi construída pela Disney.

“Tem muita gente que tem casas aqui, vive por aqui. Luigi Baricelli, Gugu, Sílvio Santos, Jorge Ben”, conta o músico Kiko Scornavacca.

Kiko conhecia Gugu desde quando era um pré-adolescente, quando ele e os irmãos formavam o KLB, banda que foi sucesso no começo dos anos 2000.

“Ele anunciou pela primeira vez o KLB pro Brasil. A partir de então, a gente começou a frequentar o programa dele quase que toda semana”, relembra Kiko.

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Na última vez que falou com Gugu, eles planejaram um encontro que nunca aconteceu:

“Eu lembro de uma foto que ele postou andando de bicicleta, no Celebration, falei, ‘pô, conheço esse lugar. A gente precisa andar de bicicleta junto’, alguma coisa assim.”

Os planos de Xanddy e Carla Perez com o padrinho de casamento também foram interrompidos. O casal mora em Celebration.

“A Carla está muito abalada. Conversaram sobre possíveis planos da gente passar o Natal juntos. Perguntou se a gente ia estar no Natal lá em Orlando e acho que até por isso mesmo está sendo tão difícil para todos nós”, conta Xanddy.

Gugu também era padrinho da filha do casal.

“A gente não entende, a gente sente que era cedo demais”, diz Xanddy.

Depois de Celebration a família de Gugu mudou pra uma cidadezinha vizinha: Windermere. O novo condomínio trazia uma comodidade a mais na vida americana. Fica a cinco minutos de carro da escola dos filhos de Gugu.

Ali, os três, João Augusto de 18 anos, e as gêmeas Sofia e Marina de 15, levavam uma vida comum, como os adolescentes da cidade. Não tinham o assédio por serem filhos de Gugu.

Discrição também é uma característica da mãe das crianças. Pessoas que conhecem Rose Di Mateo demoraram muito tempo para saber que ela era companheira de Gugu. Mesmo quem a via sempre na igreja.

“Eu só fiquei sabendo depois que eu fui visitá-la”, explica Lécio Dornas, o pastor da Igreja Batista que Rose passou a frequentar há alguns anos.

“Veio participar de um culto, ficou impressionada, foi tocada, sentiu-se bem, nos procurou. Participa todo domingo de manhã”, conta o pastor.

E foi para o pastor uma das primeiras ligações de Rose logo depois do acidente.

“Imediatamente ela ligou, pediu oração, muito já nervosa, chorando, impactada com o que estava acontecendo. E não foi só para mim, ela já colocou num grupo de mulheres pedindo oração, enfim”, relembra Lécio.

A igreja fica a menos de 10 minutos do condômino onde a família mora. Eles já estavam no condomínio há alguns anos, mas 4 meses atrás mudaram dentro do condomínio. A casa nova tem quase 700 metros quadrados. Dois andares e um pé direito alto.

O Fantástico entrou em uma casa vizinha a casa do Gugu. As casas são grandes e seguem um mesmo padrão mas com plantas diferentes. É possível ter uma ideia da altura que o apresentador caiu. Do térreo até as saídas de ar condicionado são 3 metros e 60 centímetros.

De acordo com a nota oficial da assessoria de imprensa do apresentador, ele havia entrado no forro da casa para fazer algum reparo no ar condicionado. O piso do forro é de gesso, não suporta o peso de uma pessoa. Para caminhar ali em cima é preciso pisar nas vigas. Não se sabe o que aconteceu, mas Gugu caiu pelo gesso, um andar pra baixo.

Guilherme Lepski é o neurocirurgião brasileiro chamado pela família para acompanhar Gugu no hospital:

“Numa altura de 3,5 metros, 4 metros caindo em pé, um adulto, a gente espera uma fratura de calcanhar, eventualmente uma fratura de bacias. Mas nunca bater a cabeça diretamente. Então para ter acontecido o que aconteceu, na gravidade que aconteceu, eu acho que ele deve ter desfalecido num dos momentos iniciais da queda, possivelmente bateu a cabeça contra o teto e aí desfaleceu e caiu sem defesas”, explica o médico.

Com a queda, Gugu fraturou o osso temporal direito. O que causou uma hemorragia meníngeo traumática. O sangramento se espalhou ao redor do cérebro.

“A maioria dos protocolos de atendimento de trauma internacionais dizem: não investir. Porque se você investe e faz medidas, vamos dizer, ”heroicas”, você acaba acarretando um sofrimento muito grande para o paciente, que vai ficar meses internado em coma grave. A chance de morrer é alta e se não morre, há uma chance muito grande de entrar em estado vegetativo persistente”, explica Lepski.

Depois de dois dias, foi confirmada a morte encefálica. Na dor da família, a solidariedade. A decisão de doar os órgãos respeitou uma vontade de Gugu.

“Havia o desejo da família de doar o coração para um brasileiro, mas, infelizmente isso não é possível porque o tempo de transporte seria demasiado longo e a chance de se perder o órgão seria grande”, afirma o médico.

O coração e outros órgãos foram doados e até 50 americanos podem ser beneficiados.

Na última quarta-feira (20), Gugu repetiu uma rotina que fazia há anos. Quando teve um tempo livre voou para ficar com a família. Foi com os filhos e a companheira que ele passou seus últimos momentos.

“A gente é colhido de surpresa, mas Deus estava cuidando da gente até nesse detalhe. Houve um último abraço na esposa. Ou um beijo. Houve um último beijo e um último abraço nos filhos. Houve um último encontro com aquele núcleo familiar tão importante para nossa vida”, conta o pastor Lécio Dornas.

Fonte: G1.com